segunda-feira, 28 de maio de 2012

Geoconservação em Portugal

Portugal apresenta uma importante geodiversidade e tem realizado alguns esforços para a sua conservação.

LEGISLAÇÃO
Portugal contempla na sua legislação diferentes diplomas que promovem a conservação da natureza. A lei nº9/70 de 19 de junho, define o sistema de áreas protegidas no territorio português, entre as quais inclui as reservas geológicas. A própria constituição portuguesa de 25 de abril de 1976 defende a conservação dos diferentes valores naturais. O decreto lei nº613/76 que revoga a lei nº9/70 prevê entre outras a criação de reservas naturais parciais geológicas, paisagens protegidas e sítios e lugares classificados, que podem incluir a diversidade geológica como valor principal. Este decreto-lei considera o valor estético e cultural como valor determinante da classificação dum local como protegido. Finalmente, a lei de bases do ambiente, de 1987 inclui o património geológico como constituinte do ambiente a proteger.
De destacar que Portugal, desde 2008, possui uma legislação que promove a conservação de geossítios (Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de julho), contribuindo para a proteção especifica do património geológico.

INVENTARIAÇÃO
O Inventario do património geológico de Portugal, em fase de avaliação pelo ICNB, localizou 326 locais com interesse geológico fundamental. Este será um passo essencial para a conservação do património geológico nacional. Para o arquipélago dos Açores, Lima (2007) identificou 59 geossítios, a maioria dos quais com relevância internacional e nacional.

CONSERVAÇÃO - GEOPARQUES
O primeiro Geoparque criado em Portugal em 2006 foi o Naturtejo na Meseta Meridional, e que abrange seis concelhos da Beira Interior: Castelo Branco, Idanha-aNova, Nisa, Proença-a-Nova, Oleiros e Vila Velha de Ródão. Seguiu-se o Geoparque Arouca, criado em 2009. Atualmente o Geoparque Açores encontra-se em fase de avaliação da candidatura para integrar a Rede de Geoparques Global e Europeia e o Geoparque Porto Santo está finalizando a candidatura.

DIVULGAÇÃO
Tem sido realizado também um importante esforço por incluir conceitos de geoconservação no curriculum escolar do ensino básico e especialmente do secundário. Exemplos disto são alguns materiais escolares criados recentemente.
Ao nível universitário também foram criados cursos específicos sobre património geológico, geoconservação e geoturismo.

FONTE:
Brilha e Carvalho, 2010. GEOCONSERVAÇÃO EM PORTUGAL: UMA INTRODUÇÃO - “Ciências Geológicas – Ensino e Investigação e sua História”
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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 5, post 2)

Geoparques

A UNESCO define Geoparque como “um território de limites bem definidos com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento socioeconómico local”. Neste territorio deverá implementar-se uma estragia integrada de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. Assim, o conceito de Geoparque transcende a geoconservação e tem como objetivo contribuir para a melhoria das condições de vida das populações que vivem nesse território, essencialmente através do geoturismo (aproveitamento dos recursos geológicos para a promoção da atividade turística) e incrementar a divulgação dos valores geológicos.

A UNESCO define também um conjunto de regras para a definição dum geoparque, que passam por:

1. Tamanho e localização 
A área deve ser uma região com limites bem definidos, envolvendo um número de sítios do património geológico-paleontológico (geossitios) de especial importância científica, raridade ou beleza. Estes sítios não devem ser apenas definidos por razões geológicas, mas também em virtude do seu valor arqueológico, ecológico, histórico ou cultural.

2. Proteção e participação da população 
Os geossitios definidos deverão estar formalmente classificados com áreas protegidas e o processo de criação do geoparque deverá envolver a população local, na definição das áreas e da estratégia de conservação e desenvolvimento sustentável. O processo de criação dum geoparque deverá envolver as autoridades públicas, comunidades locais, interesses privados e os responsáveis pela investigação e educação no território.

3. Desenvolvimento sustentável 
A candidatura do geoparque deverá propor ações encaminhadas ao desenvolvimento sustentável (nas suas vertentes social, económica e ambiental) do território especialmente através da promoção do geoturismo.

4. Educação 
O geoparque deverá promover a educação ambiental, treinamento e pesquisa relacionado às ciências da terra e fomentar a divulgação dos valores e importância do património geologico a toda a população. Sugerem-se para isto a criação de museus geológicos e trilhos interpretativos, entre outras ações.

5. Proteção e conservação 
A figura do Geoparque não implica nenhuma proteção legal, por este motivo, as autoridades responsáveis pela designação do mesmo deverão estabelecer uma estratégia de conservação para os geossitios que o definem. Esta estratégia de conservação deverá permitir testar metodologias de geoconservação que permitam também o incremento do conhecimento científico nos diferentes campos das ciências da Terra.

6. Participação na Rede Global de Geoparques 
A criação dum Geoparque obriga também as entidades promotoras à participação na rede global de geoparques, contribuindo para o incremento da divulgação e o conhecimento em termos de geoconservação.

Rede Global e Europeia de Geoparques 
No mundo existem 88 geoparques em 27 estados membros. A Rede Europeia conta com 50 geoparques em 19 países.
Rede Global de Geoparques
Rede Europeia de Geoparques

FONTES:
Brilha, J. (2005). Património Geológico e Geoconservação. Braga: Palimago.
UNESCO, 2010 Guidelines and Criteria for National Geoparks seeking UNESCO's assistance to join the Global Geoparks Network (GGN) 
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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 5, post 1)

Estratégias de Geoconservação

Portanto, se pretendemos conservar os recursos geológicos ou geodiversidade, ao igual que a biodiversidade, devemos começar por caracterizá-la e identificar os diferentes valores geológicos do território, seguidamente deveremos identificar as ameaças que os afetam e definir assim prioridades de conservação.

Brilha (2005) estabelece uma metodologia a ser seguida para caracterização e conservação da geodiversidade que envolve varias etapas:
Estratégias de geoconservação. Adaptado de Brilha (2005)

1. INVENTARIAÇÃO
Este primeiro passo consiste na identificação de todos os locais com interesse do ponto de vista geológico ou geossitios. Estes geossitios serão aqueles locais com um interesse que os destaque da media dos aspetos geológicos da área.

2. QUANTIFICAÇÃO
Seguidamente, o valor destes geossitios deverão ser quantificado. Esta quantificação será essencial em termos de priorização das necessidades de conservação e portanto deverá atender por um lado à importância dos mesmos e por outro a gravidade das ameaças existentes sobre os mesmos. Assim são definidos critérios intrínsecos ao geossitio, critérios relacionados com o seu uso potencial e critérios relacionados com a necessidade de proteção do mesmo. Brilha (2005) define pontuações para cada um dos critérios e estabelece fórmulas de cálculo do valor final.
Este valor final, será diferente em função de estarmos a considerar um geossitio de âmbito internacional ou nacional ou um geossitio de âmbito regional ou local.


3. CLASSIFICAÇÃO
A classificação consiste na criação de uma figura legal de proteção para o espaço, e portanto estará dependente da existência de legislação específica para este fim.

Existe legislação a nível internacional para a proteção dos valores geológicos, entre as quais pode destacar-se a recomendação Rec(2004)3 do Conselho de Europa que define especificamente a necessidade de proteção do meio físico, num conjunto de regras internacionais mais focadas na conservação da biodiversidade.

Em termos de legislação nacional, a classificação pode realizar-se através de proposta ao Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) no caso do interesse nacional e ao Ministerio de Ambiente no caso dos geossitios de interesse regional ou local. Do pedido de classificação deverá constar, para além da descrição do local e o seu interesse, um conjunto de propostas de conservação do mesmo.

4. CONSERVAÇÃO
Todo este processo de definição de geossitios, caracterização e proteção legal, tem como objetivo garantir a proteção dos valores geológicos que estes apresentam, quer do próprio processo natural que em ocasiones pode provocar a destruição dos mesmos, quer de efeitos antrópicos.
Para este fim, será necessário definir ações que permitam a redução das ameaças que afetam a estes locais e impeçam a instalação de usos que os perturbem. O objetivo final desta estratégia de geoconservação (Brilha, 2005) será “manter a integridade física do geossitio, assegurando, ao mesmo tempo, a acessibilidade do público ao mesmo”.
Assim, as estratégias de geoconservação irão diferir entre os diferentes casos, podendo variar desde estratégias de conservação in loco até estratégias de retirada de elementos relevantes para exposição em locais de acesso público como museus.

Por exemplo, a Natural England (Prosser et al, 2006 em Gray, 2008) define três tipos de geossitios principais em função das ações de conservação que será necessário realizar:
- Geossitios de exposição: São aqueles que permitem observar na superfície um fenómeno geológico extenso em profundidade. Nestes casos as medidas de gestão terão a ver com a acessibilidade ao mesmo. As ações de conservação poderão passar pela limpeza de vegetação e proteção frente a fenómenos naturais de degradação como a erosão costeira ou meteorológica.
- Geossitios finitos: São aqueles cujos valores geológicos tem uma extensão limitada e a utilização dos mesmos poderá por seriamente em causa a sua manutenção. Neste caso as medidas de gestão estarão relacionadas com o controlo da extração de material no local.
- Geossitios de integridade (Integrity sites): São locais em que o próprio processo geológico é de importante conservação, quer pelo seu próprio valor, quer por ser essencial para a manutenção de outros valores geológicos. Nestes casos a gestão é mais complexa e deverá evitar ou contrariar qualquer intervenção que possa alterar estes processos geológicos.


5. DIVULGAÇÃO
A divulgação aparece também como um fator essencial na hora de definir uma estratégia de geoconservação. Como já apontamos previamente, o desconhecimento dos valores geológicos e da importância do meio físico (ou iliteracia geológica) é um dos principais problemas que ameaça a conservação da geodiversidade. Assim, a criação de materiais que permitam a explicação dos fenómenos e formações geológicas de especial importância é essencial na hora de garantir a sua conservação a longo prazo.
Também o envolvimento das populações na conservação destes geossitios será de grande importância. Neste sentido, como veremos mais adiante, os Geoparques cumprem uma função essencial, ao aliar a geoconservação ao desenvolvimento sustentável do território através do turismo.

6. MONITORIZAÇÃO
Em último lugar, mas não menos importante: a monitorização. Será essencial a qualquer estratégia de geoconservação a avaliação dos resultados derivados das ações implementadas no território e a posterior reavaliação da estratégia em função desta nova informação.

FONTES:
Gray, M. (2008). Geodiversity: developing the paradigm. Proceedings of the Geologists' Association, 119, 287-298.
Brilha, J. (2005). Património Geológico e Geoconservação. Braga: Palimago.
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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 4, post 2)

domingo, 20 de maio de 2012

Ameaças a geodiversidade...

São várias as ameaças que a geodiversidade sofre hoje em dia. Mas em primeiro lugar, devemos distinguir o que são ameaças e o que são processos geológicos naturais que podem alterar fenómenos geológicos de forma natural. Por exemplo, e utilizando um exemplo visível na ilha de São Miguel, o processo natural das lagoas formadas em crateras de colapso (como as Sete Cidades, Furnas ou Fogo) é acabarem por transformar-se a longo prazo em pântanos, por causa da acumulação de materiais ao formarem bacias endorreicas e desaparecerem. Porém, a ação humana através da ganadaria, tem produzido uma maior concentração não são de detritos, mas também de nutrientes, que tem acelerado o processo de eutrofização que de modo natural iria produzir-se. Daí a importância da alteração deste uso para garantir que apenas o processo natural afete o estado destas lagoas.

Assim, consideraremos ameaças apenas àquelas de origem antrópico, em geral muito mais rápidas na sua capacidade destruidora do que os processos geológicos naturais. Ao igual que as ameaças para a biodiversidade, estas podem afetar a diferentes escalas e estão essencialmente causadas pela necessidade do ser humano de explorar a geologia para garantir a sua qualidade de vida. As principais ameaças que afetam a geodiversidade são: 
  • Perda total de um elemento de geodiversidade 
  • Perda parcial ou dano físico 
  • Fragmentação do interesse 
  • Perda visibilidade ou intervisibilidade 
  • Perda de acesso 
  • Interrupção do processo natural 
  • Poluição 
  • Impacto visual
As principais atividades humanas causadoras destes impactos são:

Exploração mineira/materiais de construção: A exploração de matérias geológicos, quer seja minerais, metais, rochas ou areia causa um efeito direto na geodiversidade através da extração destes materiais, em muitos casos até a desaparição dos mesmos. Más também causam impactos indiretos como o impacto visual, a poluição e a alteração de processos geológicos e hidrogeológicos naturais através da compactação de solos, por exemplo. 
Expansão das áreas urbanas e agrícolas: O uso humano do territorio é também um grave problema para a geodiversidade, uma vez que a expansão quer urbana, quer agrícola tem que se realizar no território e sobre o substrato geológico, pudendo em ocasiones vir ocupar áreas de elevado valor geológico. Um exemplo claro nos Açores é o uso agrícola as Turfeiras, grande parte das turfeiras dos Açores foram dessecadas através da construção de drenes para a formação de pastos. O resultado foi a formação de pastos de baixo valor, e graves problemas no abastecimento de água em alguns povoamentos, uma vez que estas formações são essências como reservatório de água em ilhas de reduzida dimensão. 
Erosão do litoral e obras de proteção: A erosão costeira é um processo natural, porém em ocasiões esta erosão pode afetar a populações humanas ou áreas de interesse recreativo, nestes casos se realizam obras de engenharia para a proteção destes locais que podem ter consequências nefastas em outras áreas. 
Gestão das bacias hidrográficas: As obras de regularização de caudais e de minimização de inundações que se realizam nas ribeiras são importantes para a proteção das populações, mas alteram radicalmente os processos hidrológicos e hidrogeológicos. 
Desflorestação/incêndios: A alteração do coberto vegetal e os incêndios afetam consideravelmente o solo, incrementando a erosão e a perda da camada superficial e fértil do solo. Os processos edafogenéticos (de formação de solo) são muito lentos e esta perda poderá demorar longo período de tempo em ser recuperada. 
Atividade turística: As atividades turísticas podem ter graves impactos no património geológico. Desde a realização de atividades como as motorizadas ou a escalada que podem deixar a sua pegada na paisagem até o próprio passo dos turistas por um área poderá, dependendo da sua sensibilidade ser um problema para a conservação.
Colecionismo: Em muitos casos a retirada de materiais geológicos valiosos é realizada para colecionismo sem fins científicos. Historicamente, este colecionismo tem afetado de modo muito grave a conservação de fosseis e minerais essencialmente. Um exemplo deste impacto associado com o turismo foi o grave efeito negativo que a retirada de pedra vulcânica teve no vulcaõ Teide em Tenerife. Este vulcão é visitado por 3,5 milhões de pessoas por ano. 
Atividades militares: As atividades militares, quer de treino quer as próprias ações bélicas tem claros efeitos no património geológico. 
Alterações climáticas: As alterações climáticas também poderão ter um considerável efeito na conservação da geodiversidade, essencialmente através do incremento de processos erosivos causados pela radicalização das condições atmosféricas e o incremento dos eventos de clima extremos e também pela subida do nível do mar. 

Em geral, podemos ver que, em muitos casos as ações humanas que afetam a biodiversidade e a geodiversidade são as mesmas, daí a importância de estratégias de conservação integradas e baseadas nos dois recursos e não apenas num deles.

Se calhar a única diferença importante de salientar será que, no caso da geodiversidade, devido à menor divulgação deste conceito, existe uma maior iliteracia por parte da população ao respeito da sua importância e isto se traduz numa menor preocupação em relação com a sua conservação. Assim a divulgação do património geologico e os seu valor torna-se uma acção de conservação essencial.

FONTES: 
Gray, M. (2008). Geodiversity: developing the paradigm. Proceedings of the Geologists' Association, 119, 287-298. 
Brilha, J. (2005). Património Geológico e Geconservação. Braga: Palimago.
Apontamentos da disciplina.
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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 4, post 1)


domingo, 6 de maio de 2012

O valor da geodiversidade…


A geodiversidade, ao igual que a biodiversidade cumpre importantes funções dentro dos ecossistemas e muitas de elas, derivam em bens e serviços de utilidade para o ser humano…

Fig 1. Funções sociais da geodiversidade.

A importância da geodiversidade pode agrupar-se em valores estéticos e recreativos, produtos, valor científico e educativo e funcionalidade.

VALORES ESTETICOS E RECREATIVOS: 

  • É a geodiversidade que cria e modela as paisagens, originando formações de extrema beleza. 
  • Serve de suporte para a visitação e o turismo, assim como para a realização de numerosas atividades no meio natural. 
  • Algumas formações geológicas contam com um valor cultural, histórico ou até místico ou religioso devido as suas formas peculiares e a utilização que o ser humano fez delas ao longo do tempo. 

PRODUCTOS: Os processos geológicos dão lugar a formação de nascentes de águas minerais, minas que proporcionam diferentes matérias-primas e processos que proporcionam energia.

  • Comida e bebida: Águas Minerais 
  • Energia: Os combustíveis fosseis são fruto de um processo geológico, mas existem outros processos geológicos que proporcionam energia tais como o vulcanismo (energia geotérmica) ou a hidrologia (energia hídrica). 
  • Matérias-primas para a construção: Areia, gravilha, etc. 
  • Matérias-primas utilizadas na indústria: Sílica, kaolinita, etc. 
  • Matérias-primas ornamentais: minerais, metais preciosos, fósseis, etc. 
  • Emprego: Existe um conjunto de empregos associados a manipulação, divulgação e comercialização dos produtos e processos geológicos.
VALOR CIENTIFICO E EDUCATIVO:
  • Descoberta e pesquisa científica: Muitas formações e processos geológicos ainda não são completamente conhecidos pelos cientistas, de modo que a sua conservação é essencial para a continuação da sua pesquisa. 
  • Análise histórica: As formações geológicas, devido a sua antiguidade podem proporcionar excelentes modos de analisar eventos históricos. Por exemplo, o registo fóssil ajuda-nos a compreender a evolução. 
  • Monitorização Ambiental: Os registos presentes nas formações geológicas contribuem para o conhecimento e análise das alterações ambientais. Por exemplo o análise de registos fósseis permite estabelecer as mudanças climáticas que aconteceram ainda antes do ser humano existir na terra e compará-las com as atuais. 
  • Educação: A existência de formações geológicas é um excelente recurso educativo para fazer perceber os fenómenos que deram lugar ao planeta. 
FUNCIONALIDADE:
  • Suporte para a vida: A geodiversidade é a componente abiótica dos ecossistemas e é essencial e determinante para a manutenção da biodiversidade. 
  • Formação de paisagens: Os processos geológicos conformam as paisagens e mantêm ciclos essenciais para a sobrevivência de todos os seres-vivos incluído o ser humano. 
  • Controlo de cheias e processos de erosão: A erosão e cheias são processos naturais, porém a alteração dos processos geológicos podem agravar estes processos ameaçando a sobrevivência de povoamentos. 
  • Disponibilidade de água de qualidade: O Ciclo hidrológico está estreitamente associado às formações geológicas, a presença e conservação de determinados substratos rochosos pode garantir a retenção de água de qualidade para as populações humanas. 
  • Controlo da poluição: Alguns substratos têm a capacidade de reter ou eliminar poluentes. 
  • Formação de solo: A formação de solo é um processo geológico essencial para a vida e para algumas atividades humanas como a agricultura.
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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 3, post 2)

Mas será que apenas os seres vivos são importantes?

Até agora falamos em biodiversidade, isto é o conjunto dos seres vivos que habitam o planeta, da sua importância, ameaças e conservação. Mas será que apenas estes seres vivos são importantes para o ser humano?

Um ecossistema é formado pela componente biótica, os seres vivos, e pela componente abiótica, o solo, água, clima, etc… e pelas interações entre estas. Portanto, as duas componentes são essenciais para garantir a conservação e funcionamento do planeta terra do modo em que hoje o conhecemos. 
Se falávamos que os seres vivos começaram a habitar o planeta terra há 3,5 bilhões de anos, a história dos processos geológicos que originaram os solos, rochas e paisagens do planeta é um bilhão de anos mais antigas.
Fig 1. Evoluição da geodiversidade e biodiversidade comparadas. Fonte: Gray, M. 2008




Estes processos geológicos deram lugar a diferentes tipos de rochas, formações geológicas, solos e processos naturais que servem de base e suporte a vida (GEODIVERSIDADE) e que devem ser protegidos de modo a garantir a continuidade destes processos essenciais ao ritmo e escala natural (GEOCONSERVAÇÃO). 

Fig 2. Geoparque Açores
Assim, o conceito de GEODIVERSIDADE é mais alargado e completo que o tradicional conceito de PATRIMÓNIO GEOLOGICO, baseado essencialmente no valor científico e educativos dosfenómenos geológicos, mas que esquece valores importantes em termos de equilíbrio dos ecossistemas como os processos geológicos ou os substratos (solos).

A conservação do património geológico associou-se com a conservação de monumentos naturais, isto é grandes estruturas geológicas com significado histórico ou cultural para o ser humano. Porém, o termo “geodiversidade” aparece em 1993, na Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística realizada no Reino Unido, como reação ao termo “biodiversidade” definido na Cimeira do Rio de Jaineiro em 1992. O termo “geodiversidade” pretende assim salientar a importância da componente abiótica (Gray, 2008). 
A geodiversidade do planeta terra é mais elevada do que noutros planetas conhecidos e isto pode estar relacionada com a existência de modos mais complexos de vida. 

Uma vez que os processos geológicos são muito mais lentos que os processos biológicos a medida da geodiversidade e especialmente do seu grau de ameaça é mais complicada que no caso da biodiversidade. Mesmo assim, podemos distinguir HOTSPOTS DE GEODIVERSIDADE. Gray, 2008 sugere algumas áreas que poderão apresentar especial interesse em termos de geodiversidade: 
  • Áreas com uma história geológica longa e complexa. 
  • Áreas de conexão de placas tectónicas, especialmente áreas convergentes em que se produzem fenómenos de vulcanismo e criação de novos materiais. Este é o caso do arquipélago dos Açores, situado na dorsal meio atlântica. 
  • Grandes elevações 
  • Áreas costeiras 
FONTES: 
Sharples (2002). Concepts and Principles of Geoconservation 
Gray, M. (2008). Geodiversity: developing the paradigm. Proceedings of the Geologists' Association, 119, 287-298. 
Brilha, J. (2005). Património Geológico e Geconservação. Braga: Palimago.
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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 3, post 1)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Pegada Ecológica


No início, afirmei que a causa de estas ameaças todas é O SER HUMANO, mas se analisamos como estas ameaças levam até ao ser humano, tal vez possamos encontrar uma solução a meio caminho.
sobre-exploração de espécies, se produz para a obtenção de alimento ou recursos para os seres humanos e para as industrias que mantêm a actividade económica a funcionar. 
A destruição de habitats ou fragmentação produz-se também pela necessidade do ser humano e a indústria de espaço para se colocar. 
A poluição deriva maioritariamente dos processos utilizados na indústria e da nossa utilização de produtos químicos no dia-a-dia. 
A introdução de espécies exóticas se realiza pela sua utilidade, quer para o ser humano directamente, quer para a indústria.

Uma interessante ferramenta para isto, é a medição da pegada ecológica...




Assim, se o ser humano conseguir racionalizar as suas necessidades, reduzindo assim a quantidade de recursos, espaço, poluição e alteração dos ecossistemas de que precisa para sobreviver, muitos destes problemas seriam reduzidos. 

A ISTO CHAMAMOS DE REDUÇÃO DA PEGADA ECOLOGICA.

Saiba mais…
http://www.ecopegada.org/ (Em português)

A espiral da extinção…


As ameaças identificadas anteriormente iniciam o processo de extinção, mas a própria ecologia das espécies pode determinar que estas entrem numa espiral conducente à extinção. Muitas vezes não precisamos matar directamente o último individuo duma espécie, basta reduzir tanto o seu número que torne impossível a sua sobrevivência. A este processo natural que pode levar à extinção duma espécie, chamamos de espiral da extinção...




Redução do tamanho das populaçõesRedução do número de indivíduos que formam parte duma população duma espécie. O número total de indivíduos da espécie pode ser elevado, mas se cada uma das populações da espécie (grupos de indivíduos de uma mesma espécie que interagem entre si) é pequena os efeitos negativos podem produzir-se do mesmo modo.
Depressão endogâmica: Efeitos genéticos derivados do cruzamento de indivíduos geneticamente muito próximos. Este tipo de cruzamentos pode provocar a aparição de doenças genéticas ocultas nos genes, pela desaparição de genes saudáveis dominantes (genes que não produzem a doença e impedem o funcionamento dos genes que a produzem).
Depressão exogâmica: Efeitos genéticos negativo derivados do cruzamento de indivíduos geneticamente muito distantes. Indivíduos muito distantes podem ter iniciado um processo de diferenciação genética que os permita adaptar-se as condições do meio em que existem. O cruzamento pode dar lugar a indivíduos não adaptados ao meio em que vivem.
Aumento da estocasticidade demográfica: O sucesso reprodutor de uma espécie é aleatório. A esta aleatoriedade chamamos de estocasticidade demográfica. Os problemas genéticos podem reduzir o sucesso reprodutor, causando uma maior rapidez na desaparição de uma espécie.
Redução dos fluxos migratórios: Os fluxos migratórios são a deslocação de indivíduos entre populações, esta deslocação fomenta o cruzamento entre estas populações favorecendo a diversidade genética.
Incapacidade de adaptação das espécies: As espécies incapazes de se adaptar ao meio em que existe tem a tendência natural a desaparecerem.
Alteração das relações ecológicas: A desaparição ou redução do número de indivíduos de uma espécie, pode afectar as suas relações com outras espécies, provocando efeitos em cadeia de extinção.
Desestabilização do equilíbrio do ecossistema: Os ecossistemas encontram-se em equilíbrio. As espécies que os compõem e o meio conseguem subsistir sem provocar grandes alterações que provoquem a desaparição de nenhum deles. Qualquer alteração quer do meio quer da biodiversidade, pode pôr em causa este equilíbrio provocando uma reacção em cadeia de degradação do meio e desaparição de espécies
Aumento da estocasticidade ambiental: O ambiente muda de modo aleatório naturalmente, por exemplo uns anos chove mais e outros menos. A esta aleatoriedade chamamos de estocasticidade ambiental. Existem eventos que tornam ainda mais aleatórias as mudanças do meio pudendo provocar situações em que as espécies não se podem adaptar.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Alterações climáticas: Uma ameaça não só para a biodiversidade


As alterações climáticas são variações na temperatura e nos fenómenos atmosféricos (chuva, vento, tormentas eléctricas, etc…) Ao igual que a perda de biodiversidade, existem provas que as alterações climáticas aconteceram no planeta ainda antes do ser humano. Este é o caso das glaciações que foram períodos de descida das temperaturas.


Mais uma vez, o que diferença as alterações que vivemos no presente, é que podem relacionar-se directamente com o comportamento do ser humano e mais concretamente com a emissão de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono, metano, etc… que produzimos maioritariamente ao queimar combustíveis fósseis.


Estes gases formam uma camada na atmosfera que permite a entrada, mas não a saída dos raios solares e isto provoca o aquecimento do planeta.

O aquecimento do planeta, provoca também alterações na chuva e faz com que existam períodos ainda mais secos e períodos ainda mais húmidos, provoca fenómenos meteorológicos extremos como furações e tornados mais frequentes. O aquecimento global já está a afectar os grandes glaciares, fazendo com que estes se derretam, aumentando o nível do mar e afectando à circulação dos oceanos que também condiciona o clima. O aquecimento afecta também à agricultura, a disponibilidade de água e pode contribuir para a expansão de doenças tropicais limitadas pela temperatura.



Em termos de biodiversidade, o aquecimento global pode afectar os habitats tornando-os não adequados par a sobrevivência de algumas espécies. Se estas espécies não têm capacidade de dispersão para se deslocar a zonas em que encontrem as condições adequadas, irão desaparecer. Assim, as alterações climáticas.

Mas no caso das alterações climáticas, a biodiversidade não é apenas uma das vítimas do comportamento do ser humano, pode ser também a solução. Um dos principais gases de efeito estufa, o dióxido de carbono é retido pelas plantas e fixado nas suas estruturas, retirando-o da atmosfera de modo que deixa de causar este efeito. 


Assim, a recuperação de ecossistemas naturais pode ser também uma importante ferramenta para travar os graves efeitos que as alterações climáticas podem ter para a nossa própria sobrevivência.

BIBLIOGRAFIA:
Millennium Ecosystem Assessment (2005)
http://www.carbon-biodiversity.net/Issues/CarbonStorage
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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 2, post 2)

Ameaças à Biodiversidade


À luz dos dados científicos parece evidente a existência de uma crescente perda de biodiversidade, que já ultrapassa o ritmo das extinções acontecidas no passado, antes do ser humano sequer existir no planeta. Também já apontamos que a diferença actualmente radica na causa primeira de estas extinções: O SER HUMANO.

Mas como é que o ser humano está a conseguir causar esta rápida desaparição de seres vivos do planeta?

Bem, existem três principais motivos para a desaparição da biodiversidade: a sobreexploração, a destruição do habitat e a introdução de espécies exóticas.

Sobre-exploração: O consumo ou uso directo duma espécie por parte do ser humano que leva à redução da sua população até números que não permitem a sua viabilidade, provocando a sua desaparição do planeta junto da perda deste recurso para o ser humano.

Destruição do habitat: Incluí qualquer alteração do meio em que uma espécie se desenvolve que faz com que a sua subsistência seja impossibilitada. Esta destruição do habitat pode ter diferentes causas:

  • Alteração de usos do solo: Muitos habitats desaparecem apenas para se transformar em outros habitats de maior “utilidade” para o ser humano, como por exemplo pastagens para o gado, culturas, plantações florestais, vilas, cidades e industrias.
  • Fragmentação: A fragmentação é uma consequência da alteração de usos do solo, mas neste caso, não é preciso provocar a desaparição do todo o habitat para fazer desaparecer algumas espécies, basta reduzir o seu tamanho de modo que uma espécie já não possa subsistir. Por exemplo, espécies grandes ou espécies que se alimentam de outras, precisam grandes territórios para obter o alimento suficiente para subsistir. Muitas vezes, estruturas lineares que ocupam um espácio pequeno, como estradas, muros ou linhas eléctricas podem causar grandes impactos em termos de fragmentação do habitat, actuando como uma barreira para o passo de espécies.
  • Poluição: Consiste na alteração dum habitat por introdução de substâncias químicas aleias ao mesmo. A poluição pode afectar directa ou indirectamente às espécies, uma vez que pode tratar-se de substâncias que provocam a morte da espécie ou apenas de sustâncias que destroem o seu habitat ao ponto de ser difícil a sua sobrevivência. 






Introdução de Espécies Invasoras: Espécies invasoras são aquelas que, não sendo originárias dum determinado habitat e tendo aparecido de modo artificial, isto é por causa do ser humano (espécies exóticas) tem a capacidade de se reproduzir e dispersar sem ajuda do mesmo (espécies naturalizadas) e ainda tem efeitos nocivos nas espécies nativas (naturalmente presentes no local). Os efeitos de perda de biodiversidade por introdução de espécies invasoras podem ser muito graves, um claro exemplo de este problema é o arquipélago dos Açores e especialmente a ilha de São Miguel.




Relevância das causas da perda de Biodiversidade:


Como podemos observar no gráfico, estes três factores, determinam praticamente o 100% das extinções acontecidas no planeta desde 1600. A importância relativa, variará em função das espécies em perigo e os ecossistemas em que estas se inserem.

BIBLIOGRAFIA:
Millennium Ecosystem Assessment (2005)
Myers, N. (1996) "The rich diversity of biodiversity issues"
http://www.fathom.com/course/21701785/session2.html

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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 2, post 1)

terça-feira, 17 de abril de 2012

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Para Proteger devemos valorar?

No anterior post, apontávamos para a principal causa do desaparecimento massivo de espécies no planeta no presente: O SER HUMANO. E dissemos que este facto dá lugar ao dever moral de proteger esta biodiversidade, mas será que esta obrigação moral é suficiente para proteger a biodiversidade?

Se atendemos ao atual ritmo de degradação do planeta (Vitousek et al., 1997), parece óbvio que o ser humano não admite esta obrigação moral e de facto continua a degradar cada vez mais os ecossistemas.
Mas não devemos esquecer que o ser humano não é mais do que uma espécies, mais uma de tantas criada ao longo da evolução da vida na terra e, portanto, também faz parte dos ecossistemas da terra e pode sujeitar-se como qualquer outra espécie à extinção no caso de não se conseguir adaptar às mudanças que ele próprio provoca no seu meio ambiente.

Assim, o ser humano recebe uma grande quantidade de bens e serviços que procedem de outros seres vivos ou das suas funções no ecossistema. A estes bens e serviços chama-se de SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS. Estes serviços podem ser de diferentes tipos:

Bens (Provisioning services): Refere-se àquilo que recebemos diretamente da natureza, como alimento, madeira e outros produtos, medicamentos, sustâncias bioquímicas, recursos ornamentais e agua doce.

Serviços: Referem-se àquilo que recebemos indiretamente, graças as funções que uma ou várias espécies cumprem no ecossistema. Podemos distinguir três tipos:

Serviços culturais: O ser humano disfruta da biodiversidade, aprende com ela e pode utilizá-la como inspiração. Exemplos destes serviços são a paisagem, turismo, educação, cientifico, artístico.

Serviços reguladores: A biodiversidade influencia os ciclos naturais (ciclo da água, carbono, nitrogénio e fosforo) permitindo serviços como a proteção frente a riscos naturais, regulação da água, limpeza de água e resíduos, polinização, controlo biológico, regulação do clima, regulação da qualidade do ar.

Serviços de suporte: São aqueles serviços que suportam a vida quer dos outros organismos vivos, quer do ser humano. São, tal vez, os mais indiretamente relacionados com o bem-estar humano. Porém, são essenciais para a manutenção dos ecossistemas e das suas outras funções. Exemplos destes serviços são: Produção, Descomposição, Ciclos de nutrientes, Ciclo da água, Formação de solo, Interações ecológicas, Processo evolutivo.

Atendendo a estes serviços, parece clara a importância que a biodiversidade tem para o bem-estar das comunidades humanas, tem a biodiversidade. Porém, é mais controverso se é lícito, útil, ou se é sequer possível, a quantificação de estes serviços em termos monetários ou económicos.

Neste sentido, Pearce (2001) (em Christie et al., 2006) defende a avaliação económica do valor da biodiversidade como uma ferramenta essencial para a conservação dos recursos, uma vez que também são muito fortes as pressões económicas para os destruir. Outros autores, defendem que é impossível recolher em termos económicos todos os serviços que os ecossistemas prestam a humanidade.

Eu tive oportunidade de realizar uma avaliação dos serviços dos ecossistemas fornecidos pela ZPE Pico da Vara / Ribeira do Guilherme (Cruz et al., 2011). Este estudo permitiu concluir que, de facto, a avaliação monetária dos serviços dos ecossistemas não pode ser realizada, seja por falta de informação disponível, seja por dificuldade em relacionar um serviço com um valor monetário, uma vez que muitos serviços que recebemos dos ecossistemas são gratuitos. Porém, esta avaliação permite estabelecer de forma quantitativa e qualitativa muitos de estes serviços, servindo para justificar a importância das ações de conservação, mas também como indicativo de serviços que podem ser explorados de uma maneira sustentável para melhorar a qualidade de vida ao tempo que se preservam os ecossistemas.

Fontes de informação:
Christie et al (2006) "Valuing the diversity of biodiversity"
Millennium Ecosystems Assessment (2005)
Vitousek et al., 1997. Human Domination of Earth's Ecosystems. Science, 25. July 1997:
Vol. 277 no. 5325 pp. 494-499 
Wilson, E., 1988. The current state of biological diversity
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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 1, post 2)

sábado, 31 de março de 2012

A Vida no Planeta

Ainda hoje, desconhecemos a origem da vida no planeta, existindo diferentes teorias, mas parece aceite por todos os cientistas que foi a partir de uma ou umas formas de vida primitivas que todas as espécies do planeta foram evoluindo e diversificando-se até dar lugar à imensa diversidade de espécies existentes no planeta.

Mas nem todos os seres que foram aparecendo ao longo da história geológica da Terra sobreviveram. Bem antes do homem sequer ter aparecido sobre a faz da terra, já se produziram extinções em massa de espécies de seres vivos. Tal vez a extinção dos dinossauros seja a mais conhecida, mas houve vários períodos de extinção em massa de espécies. Para além disso, o desaparecimento de espécies menos adaptadas é um processo ecológico reconhecido cientificamente.

O que diferencia o presente momento de extinção de espécies, das extinções em massa ocorridas anteriormente no planeta, é a causa primeira: O SER HUMANO.
Por este motivo, o ser humano é moralmente responsável pela conservação da diversidade biológica na atualidade, mas para a conservar precisamos a conhecer e medir…

Como caracterizamos e medimos a vida no planeta?

A Convenção para a Diversidade Biológica (CBD) define "diversidade biológica" como a variabilidade de organismos vivos de qualquer origem, incluindo, entre outros, os ecossistemas terrestres e marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos que fazem parte; compreende a diversidade dentro de cada espécie, entre as espécies y de los ecossistemas.


  • Diversidade específica: Refere às diferentes espécies (conjunto de seres vivos de características semelhantes e capazes de se reproduzir entre eles) presentes no planeta.
  • Diversidade genética: Este tipo de biodiversidade vai para além do número de espécies no planeta e incluí como diversidade a diversidade de genes que estas espécies contêm. Esta diversidade genética pode dar lugar a novas espécies com a passagem do tempo, mas também tem a capacidade de garantir a sobrevivência da espécie.
  • Diversidade funcional: As espécies não existem isoladas, mas interagem entre elas e com o meio dando lugar a ecossistemas complexos. Uma mesma espécie, em ambientes ou ecossistemas diferentes, pode cumprir funciones diferentes.

Assim, podemos compreender que não é fácil medir a biodiversidade, isto irá depender de qual dos seus aspectos consideremos mais relevante: Riqueza específica mede o número absoluto de espécies diferentes existentes num local, sem atender à quantidade de indivíduos que existem de cada uma delas (equitatividade). Tanto o Índice de informação (Shannon & Weaver, 1962) como o Índice de diversidade de Simpson (Simpson, 1949) relativizam a riqueza em função do número de indivíduos que existem de cada uma destas espécies.

Existem inúmeros índices de biodiversidade que podem ser aplicados, e escolha irá depende daquilo que nós interesse salientar e diferenciar entre áreas. Um exemplo de como estes diferentes índices dão valores diferentes de importância das áreas do planeta são os resultados do sistema de informação biogeografica dos oceanos

Estes índices identificam a variedade de espécies ou genes (também podem ser aplicados à variabilidade genética) (ESTRUCTURA), mas será que este número de espécies é indicativo da saúde dum ecossistema, da sua capacidade de sobrevivência a longo prazo (FUNCIONALIDADE)?

Apesar de terem existido hipóteses que afirmaram que uma maior biodiversidade é necessariamente indicativo de uma maior funcionalidade e estabilidade num ecossistema, isto não é necessariamente assim. Na realidade, a desaparição duma espécie num ecossistema pode não ter nenhum efeito no mesmo se existirem outras espécies que consigam ocupar o seu nicho ecológico, isto é cumprir a sua função e realizar as suas interações.

Todos estes factores, são importantes quando pretendemos proteger a biodiversidade, uma vez que é impossível não afectarmos os ecossistemas, estes índices podem permitir-nos definir quais são as áreas mais importantes de proteger. Existem áreas do planeta, essencialmente concentradas nos trópicos, com enormes concentrações de espécies (hotspots), porém, a identificação destas áreas irá depender não só do conceito de diversidade biológica aplicado, mas também do nosso conhecimento das espécies, uma vez que não conhecemos um elevado número das espécies que existem no planeta.

Más também estas considerações vão nos permitir definir prioridades de proteção para as espécies, podemos decidir que uma espécie merece ser mais protegida por ser mais rara, por estas mais ameaçada de extinção, por ser mais importante para o equilíbrio do ecossistema (keystone species), por ser indicadora da conservação de outras espécies mais difíceis de encontrar (umbrella species) ou simplesmente por ser mais querida pelas pessoas (espécies carismáticas, bonitas, familiares, localmente importantes). Neste último caso, as espécies podem ser utilizadas para convencer à opinião pública da importância de conservação dum ecossistema (flagship species). Existem também índices que permitem valorar as espécies de acordo com um ou vários destes parâmetros, como por exemplo o aplicado pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) para a elaboração da sua lista vermelha.

Fontes de informação:
Araújo, M., Avaliação da Biodiversidade em conservação, Silva Lusitana 6 (1). 19-40, 1998, EFN, Lisboa
Bryant, P.J., 2005. Biodiversity and Conservation - a hypertext book
Lovejoy, T. (1996) "Biodiversity: what is it?" In Biodiversity II
Wilson, E.O. (1988) "The current state of biological diversity" In Biodiversity.
Convention on Biological Diversity (CBD) http://www.cbd.int/
International Union for the Conservation of Nature (IUCN) - http://www.iucn.org/

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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 1, post 1)