segunda-feira, 2 de abril de 2012

Para Proteger devemos valorar?

No anterior post, apontávamos para a principal causa do desaparecimento massivo de espécies no planeta no presente: O SER HUMANO. E dissemos que este facto dá lugar ao dever moral de proteger esta biodiversidade, mas será que esta obrigação moral é suficiente para proteger a biodiversidade?

Se atendemos ao atual ritmo de degradação do planeta (Vitousek et al., 1997), parece óbvio que o ser humano não admite esta obrigação moral e de facto continua a degradar cada vez mais os ecossistemas.
Mas não devemos esquecer que o ser humano não é mais do que uma espécies, mais uma de tantas criada ao longo da evolução da vida na terra e, portanto, também faz parte dos ecossistemas da terra e pode sujeitar-se como qualquer outra espécie à extinção no caso de não se conseguir adaptar às mudanças que ele próprio provoca no seu meio ambiente.

Assim, o ser humano recebe uma grande quantidade de bens e serviços que procedem de outros seres vivos ou das suas funções no ecossistema. A estes bens e serviços chama-se de SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS. Estes serviços podem ser de diferentes tipos:

Bens (Provisioning services): Refere-se àquilo que recebemos diretamente da natureza, como alimento, madeira e outros produtos, medicamentos, sustâncias bioquímicas, recursos ornamentais e agua doce.

Serviços: Referem-se àquilo que recebemos indiretamente, graças as funções que uma ou várias espécies cumprem no ecossistema. Podemos distinguir três tipos:

Serviços culturais: O ser humano disfruta da biodiversidade, aprende com ela e pode utilizá-la como inspiração. Exemplos destes serviços são a paisagem, turismo, educação, cientifico, artístico.

Serviços reguladores: A biodiversidade influencia os ciclos naturais (ciclo da água, carbono, nitrogénio e fosforo) permitindo serviços como a proteção frente a riscos naturais, regulação da água, limpeza de água e resíduos, polinização, controlo biológico, regulação do clima, regulação da qualidade do ar.

Serviços de suporte: São aqueles serviços que suportam a vida quer dos outros organismos vivos, quer do ser humano. São, tal vez, os mais indiretamente relacionados com o bem-estar humano. Porém, são essenciais para a manutenção dos ecossistemas e das suas outras funções. Exemplos destes serviços são: Produção, Descomposição, Ciclos de nutrientes, Ciclo da água, Formação de solo, Interações ecológicas, Processo evolutivo.

Atendendo a estes serviços, parece clara a importância que a biodiversidade tem para o bem-estar das comunidades humanas, tem a biodiversidade. Porém, é mais controverso se é lícito, útil, ou se é sequer possível, a quantificação de estes serviços em termos monetários ou económicos.

Neste sentido, Pearce (2001) (em Christie et al., 2006) defende a avaliação económica do valor da biodiversidade como uma ferramenta essencial para a conservação dos recursos, uma vez que também são muito fortes as pressões económicas para os destruir. Outros autores, defendem que é impossível recolher em termos económicos todos os serviços que os ecossistemas prestam a humanidade.

Eu tive oportunidade de realizar uma avaliação dos serviços dos ecossistemas fornecidos pela ZPE Pico da Vara / Ribeira do Guilherme (Cruz et al., 2011). Este estudo permitiu concluir que, de facto, a avaliação monetária dos serviços dos ecossistemas não pode ser realizada, seja por falta de informação disponível, seja por dificuldade em relacionar um serviço com um valor monetário, uma vez que muitos serviços que recebemos dos ecossistemas são gratuitos. Porém, esta avaliação permite estabelecer de forma quantitativa e qualitativa muitos de estes serviços, servindo para justificar a importância das ações de conservação, mas também como indicativo de serviços que podem ser explorados de uma maneira sustentável para melhorar a qualidade de vida ao tempo que se preservam os ecossistemas.

Fontes de informação:
Christie et al (2006) "Valuing the diversity of biodiversity"
Millennium Ecosystems Assessment (2005)
Vitousek et al., 1997. Human Domination of Earth's Ecosystems. Science, 25. July 1997:
Vol. 277 no. 5325 pp. 494-499 
Wilson, E., 1988. The current state of biological diversity
--
Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 1, post 2)

Sem comentários:

Enviar um comentário