domingo, 20 de maio de 2012

Ameaças a geodiversidade...

São várias as ameaças que a geodiversidade sofre hoje em dia. Mas em primeiro lugar, devemos distinguir o que são ameaças e o que são processos geológicos naturais que podem alterar fenómenos geológicos de forma natural. Por exemplo, e utilizando um exemplo visível na ilha de São Miguel, o processo natural das lagoas formadas em crateras de colapso (como as Sete Cidades, Furnas ou Fogo) é acabarem por transformar-se a longo prazo em pântanos, por causa da acumulação de materiais ao formarem bacias endorreicas e desaparecerem. Porém, a ação humana através da ganadaria, tem produzido uma maior concentração não são de detritos, mas também de nutrientes, que tem acelerado o processo de eutrofização que de modo natural iria produzir-se. Daí a importância da alteração deste uso para garantir que apenas o processo natural afete o estado destas lagoas.

Assim, consideraremos ameaças apenas àquelas de origem antrópico, em geral muito mais rápidas na sua capacidade destruidora do que os processos geológicos naturais. Ao igual que as ameaças para a biodiversidade, estas podem afetar a diferentes escalas e estão essencialmente causadas pela necessidade do ser humano de explorar a geologia para garantir a sua qualidade de vida. As principais ameaças que afetam a geodiversidade são: 
  • Perda total de um elemento de geodiversidade 
  • Perda parcial ou dano físico 
  • Fragmentação do interesse 
  • Perda visibilidade ou intervisibilidade 
  • Perda de acesso 
  • Interrupção do processo natural 
  • Poluição 
  • Impacto visual
As principais atividades humanas causadoras destes impactos são:

Exploração mineira/materiais de construção: A exploração de matérias geológicos, quer seja minerais, metais, rochas ou areia causa um efeito direto na geodiversidade através da extração destes materiais, em muitos casos até a desaparição dos mesmos. Más também causam impactos indiretos como o impacto visual, a poluição e a alteração de processos geológicos e hidrogeológicos naturais através da compactação de solos, por exemplo. 
Expansão das áreas urbanas e agrícolas: O uso humano do territorio é também um grave problema para a geodiversidade, uma vez que a expansão quer urbana, quer agrícola tem que se realizar no território e sobre o substrato geológico, pudendo em ocasiones vir ocupar áreas de elevado valor geológico. Um exemplo claro nos Açores é o uso agrícola as Turfeiras, grande parte das turfeiras dos Açores foram dessecadas através da construção de drenes para a formação de pastos. O resultado foi a formação de pastos de baixo valor, e graves problemas no abastecimento de água em alguns povoamentos, uma vez que estas formações são essências como reservatório de água em ilhas de reduzida dimensão. 
Erosão do litoral e obras de proteção: A erosão costeira é um processo natural, porém em ocasiões esta erosão pode afetar a populações humanas ou áreas de interesse recreativo, nestes casos se realizam obras de engenharia para a proteção destes locais que podem ter consequências nefastas em outras áreas. 
Gestão das bacias hidrográficas: As obras de regularização de caudais e de minimização de inundações que se realizam nas ribeiras são importantes para a proteção das populações, mas alteram radicalmente os processos hidrológicos e hidrogeológicos. 
Desflorestação/incêndios: A alteração do coberto vegetal e os incêndios afetam consideravelmente o solo, incrementando a erosão e a perda da camada superficial e fértil do solo. Os processos edafogenéticos (de formação de solo) são muito lentos e esta perda poderá demorar longo período de tempo em ser recuperada. 
Atividade turística: As atividades turísticas podem ter graves impactos no património geológico. Desde a realização de atividades como as motorizadas ou a escalada que podem deixar a sua pegada na paisagem até o próprio passo dos turistas por um área poderá, dependendo da sua sensibilidade ser um problema para a conservação.
Colecionismo: Em muitos casos a retirada de materiais geológicos valiosos é realizada para colecionismo sem fins científicos. Historicamente, este colecionismo tem afetado de modo muito grave a conservação de fosseis e minerais essencialmente. Um exemplo deste impacto associado com o turismo foi o grave efeito negativo que a retirada de pedra vulcânica teve no vulcaõ Teide em Tenerife. Este vulcão é visitado por 3,5 milhões de pessoas por ano. 
Atividades militares: As atividades militares, quer de treino quer as próprias ações bélicas tem claros efeitos no património geológico. 
Alterações climáticas: As alterações climáticas também poderão ter um considerável efeito na conservação da geodiversidade, essencialmente através do incremento de processos erosivos causados pela radicalização das condições atmosféricas e o incremento dos eventos de clima extremos e também pela subida do nível do mar. 

Em geral, podemos ver que, em muitos casos as ações humanas que afetam a biodiversidade e a geodiversidade são as mesmas, daí a importância de estratégias de conservação integradas e baseadas nos dois recursos e não apenas num deles.

Se calhar a única diferença importante de salientar será que, no caso da geodiversidade, devido à menor divulgação deste conceito, existe uma maior iliteracia por parte da população ao respeito da sua importância e isto se traduz numa menor preocupação em relação com a sua conservação. Assim a divulgação do património geologico e os seu valor torna-se uma acção de conservação essencial.

FONTES: 
Gray, M. (2008). Geodiversity: developing the paradigm. Proceedings of the Geologists' Association, 119, 287-298. 
Brilha, J. (2005). Património Geológico e Geconservação. Braga: Palimago.
Apontamentos da disciplina.
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Post realizado no âmbito da disciplina de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação do Mestrado em Cidadania e Participação Ambiental da Universidade Aberta (Tema 4, post 1)


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